Caminho do Sul

Pela cidade girou, girou, dias sem parar,
apontando o caminho do sul,
p’ra gente voltar.
Pela cidade a sua voz soou, dias sem parar,
e para quem não escutou o mundo ia se acabar.

A multidão se afoga no caos da selva de vidro tocando o céu.
E nada mais é como antes.
O saber se acumula em estantes e não sai à rua.

A escravidão muda a cor da pintura mas não desapareceu.
Já nada mais é como antes.
A vida se joga em instantes, ninguém vê a lua.

Equilibrando na cabeça a bacia de fruta,
o filho dorme abraçado pelo pano do congo.
Da tua boca o canto que ele vai saber escutar,
cantos que vêm dos cantos do norte, em kikongo.
Segue o teu corpo, vertical, na sua perfeição,
segue o teu passo e com ele o rumo de uma nação.

Quisera deus ter teu poder
Quantos mundos cabem na tua mão
Vem nos dizer onde está o sul

A mulher pisava o chão, caminhando e fixando o sul com o olhar.
O ruído ficou pra trás.
Hoje um novo tempo ela faz desde o seu umbigo .

Os homens viram então que um passo atrás também pode ser avançar.
E nada mais é como antes.
O saber saiu das estantes e ganhou a rua.


Letra e Música: Aline Frazão

Álbum: Clave Bantu (2011)