Chamado Por Morfeu
Não me lembro quando adormeceu
Mas sei que foi chamado por Morfeu
Do lado de cá, um corpo sem dono
Do lado do sono, um pluriverso
Sombras, formas, rimas, verso
Em branco e preto, em 3 por 4
Expressionismo alemão
Addis, Berlim, Teerão
No mapa Jarmuch e a luz
era um disco dos Pink Floyd
Asteróide em camara-lenta
magenta, a boca seca,
ondas no colchão
Andava descalço num jardim
De trevos gigantes e jasmim
Do lado de cá, um corpo sem dono
Do lado do sono, uma conversa
Plantas revelando segredos
De Estado, de cama
e de temperos
Num eloquente guião
Os limites da ficção
Por trás da lente ele sorri
E num súbito flash-back
O Musseque em vez do Asfalto
Estórias vivas, falando alto
Prisioneiro de Morfeu
O trem sonolento segue viagem
Gravando os detalhes da paisagem
Do lado de cá, um corpo sem dono
Do lado do sono, um plano
Americano,
pelos joelhos das palmeiras
Bem humano,
O fim do fumo lento das fogueiras
De olhos fechados o olfacto ajuda
Aroma de caxinde e tangerina
Deitado na esteira, ele estuda
Uma casuarina
Soberana, na Ilha de Luanda
Mexe-se na cama
E quase acorda
Parece que não
Não me lembro quando adormeceu
Mas sei que foi chamado por Morfeu
Do lado do plano, Wong-Kar Wai
Do lado do sono, um bolero
Do lado de lá, solto ele vai
Do lado de cá, eu espero
Letra e Música: Aline Frazão
Álbum: Dentro da Chuva (2018)