Crónica de um (Des)encontro

O encontro pela sorte foi marcado 
numa esquina do tempo.
Os dois vinham a passo coordenado,
qual luzes que desfilam com cuidado
misurando o vento
na janela do carro vendo a noite assim,
em movimento.

No principio era só um desconfiado
intenso sentimento,
pois os dois traziam do passado,
à sua maneira, disfarçado,
seu ensinamento:
que o encontro é bem mais desencontrado
que idealmente.

E depois do relógio partilhado
quiseram matar o tempo.
Hesitante, o amor foi trocado
pelo esquecimento

E foi então que o espaço foi tomado
por um vazio lento.
Tão lento como um canto embriagado,
tão lento como um sol que se contorce
de dor mar adentro,
arrefecendo o seu peso pesado
da ausência dolente.

Nem depois do relógio ter parado
veio o esquecimento.
E nos dois o vazio se encheu
de arrependimento.


Letra e Música: Aline Frazão

Álbum: Movimento (2013)