O Som do Jacarandá

Aqui
algumas árvores
cobriram-se de flores para impedir o choro
e o canto das raízes.

O jacarandá invadiu devagarinho
as esquinas da cidade.

Ninguém
deu conta
mas uma luz azul tomou conta de tudo
durante uns tempos.

Doença assim é p’ra
fazer gritar de prazer.

Aqui
a música
pode ouvir-se na mão curvada,
búzio sobre o ouvido.

O que sobra são os sinos
às seis da tarde.

Quando se colhe a roupa fica de linho
o mar.

Aqui
as pedras já não são pedras
O sopro de vida que as habita
É um resto da fala antiga de que são feitos os versos
Fios de pólen e líquenes
recriam antigas danças de floresta

O mar
deixa o cheiro pelas mãos


Poema: Ana Paula Tavares

Música: Aline Frazão

Álbum: Insular (2015)